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Benefícios do uso de Plantas de Cobertura

Publicado em 05 de janeiro de 2023

O Brasil é pioneiro na criação e adoção de práticas de manejo para conservação do solo. Os três princípios que norteiam os sistemas conservacionistas de produção são o não revolvimento do solo, cobertura permanente durante todo o período do ano e rotação de culturas. É neste contexto que emerge o uso de plantas de cobertura. Em essência, estas plantas possuem a função de cobrir o solo integrando o manejo de rotação de culturas dentro dos sistemas conservacionistas, seja no período entressafras na produção de grãos, ou no período de renovação de áreas de cana-de-açúcar, bem como entre fileiras de cultivos arbóreos perenes ou como cultivo principal em áreas destinadas a pastagem. Os benefícios do uso de plantas de cobertura nos sistemas agrícolas vão além de cobrir a superfície do solo.

Imagem: Bruna Emanuele Schiebelbein

 

A Figura 1 demonstra múltiplos benefícios do uso na melhoria da saúde do solo, isto é, melhoria de componentes físicos, químicos e biológicos do solo que são os responsáveis pelo funcionamento do solo como ecossistema vivo. Acima da superfície as plantas de cobertura promovem o controle da erosão através da redução do impacto da chuva, redução da enxurrada e aumento da resistência do solo à desagregação. Além disso, essas plantas auxiliam na regulação térmica do solo, na redução da evaporação e no controle de plantas daninhas, seja competindo por luz, água e nutrientes, efeito alelópatico, ou atuando como barreira física contra a emergência de plantas invasoras.

A presença e crescimento de raízes diversificadas promovem alterações na estrutura do solo, formando bioporos que regulam os fluxos de ar e água, e espaço poroso capaz de aumentar a retenção de água no solo. As plantas de cobertura também promovem a formação de agregados estáveis com maior capacidade de sustentar o crescimento radicular e resistir a pressões externas aplicadas por máquinas e animais sobre o solo.

À vista disso, o cultivo de plantas de cobertura nos sistemas agrícolas é uma excelente estratégia de manejo para promover a qualidade física do solo. O cultivo de plantas de cobertura, principalmente leguminosas, contribui para a fixação de nitrogênio através da associação com microrganismos. Além do importante papel na fixação biológica, o ciclo vegetativo e posterior decomposição dos restos culturais regula a ciclagem de nutrientes e aumenta a disponibilidade de fósforo, potássio, nitrogênio e outros macro e micronutrientes para as culturas subsequentes.

As plantas de cobertura não leguminosas reduzem a lixiviação de nitrato ao incorporar nitrogênio em sua biomassa. Além disso, o aumento na entrada de biomassa vegetal por meio de plantas de cobertura no sistema de produção incrementa os teores de matéria orgânica no solo e consequentemente o estoque de carbono, que além do efeito na ciclagem de nutrientes também contribui para a adaptação e mitigação de mudanças climáticas causada pelo aumento da emissão de gases de efeito estufa.

A atividade biológica do solo é beneficiada pelo contínuo aporte de biomassa oriundo das plantas de cobertura. Os efeitos ocorrem no aumento da abundância e diversidade da macrofauna bem como no aumento da biomassa microbiana. O aumento na população de minhocas melhora as propriedades biofísicas e a fertilidade do solo nos ambientes de produção. Também ocorre aumento de muitas reações bioquímicas através da liberação de enzimas por bactérias, fungos micorrízicos arbusculares e nematoides benéficos ao solo que favorecem a decomposição de resíduos vegetais, fixação biológica de nutrientes, ciclagem de nutrientes e disponibilização de nutrientes na forma inorgânica para o crescimento das plantas, além da supressão de fitonematoides patogênicos.

O uso de plantas de cobertura beneficia inúmeros processos físicos, químicos e biológicos no solo, e favorece a multifuncionalidade do solo no suporte ao crescimento e desenvolvimento das plantas, regulação dos fluxos hídricos e purificação da água, regulação climática através da capacidade de sequestro de carbono, ciclagem de nutrientes, aumento da biodiversidade e regulação de pragas e doenças. Todavia, a magnitude dos benefícios das plantas de cobertura é condicionado por condições climáticas, características de cada tipo de solo, indicação e limitação de uso em função das características fitotécnicas das diversas plantas e ambiente de produção.

Não existe uma estratégia única de uso de plantas de cobertura para as diferentes regiões brasileiras.

Conhecer as implicações para o manejo da saúde do solo, específicas para cada planta de cobertura, é imprescindível para maximizar seus benefícios nos sistemas de produção agrícola.

Fonte: Guia Prático de Plantas de Cobertura / ESALQ